Mulher independente procura homem sensato

As relações são mesmo complicadas ou somos nós que complicamos?

"«Mulheres independentes». Já ouviram a expressão, claro. Também podemos chamar-lhes «auto-suficientes». Parece que é socialmente mais correcto. Há quem se refira a elas como «autónomas». Ou «modernas». Outros, mais bota-de-elástico, preferem o clássico e redutor «prafrentex». a expressão que as designa pouco importa. O essencial é o que representam: um equilíbrio quase-perfeito de problemas do passado resolvidos, alguma autonomia financeira e independência face a parceiros-galifões de ocasião. Há mais características, claro, mas fiquemos por estas. E acrescentamos uma, essencial para esta divagação: a disponibilidade emocional para encetar novas relações. Há quem as admire. Há quem as considere perfeitamente «normais» e sem necessidade de rótulos. Mas também há quem as tema e não saiba exactamente o que fazer com elas. E, por isso, prefere mantê-las à distância. Algumas até agradecem, mas há outras que não merecem esse receio. E ficam tão desesperadas porque «as mulheres já não são o que eram» (ou o que eles pensam que elas alguma vez deviam ter sido).
Ninguém explicou a esses homens que não têm de ser sempre eles a convidar. Que não têm de ser eles a ir buscá-las a casa: elas também têm carro, também conduzem, também sabem onde moramos. Eles ainda não perceberam que ser conduzidos por uma mulher é tão normal como o contrário. E que saber trabalhar com o berbequim é uma mais-valia, mas não quando elas percebem mais de brocas de betão do que nós.
É claro que o caso muda ligeiramente de figuraquando passamos a falar de dinheiro e de poder. E aí pode ser um tudo-nada mais delicado... O que fazer quando a nossa nova namorada ganha muito mais do que nós? Como lidar com o facto de ela estar habituada a passar férias nas Seychelles e nós só podermos alugar uma casa em porto Corvo? Como ser o «homem da relação» quando ela comanda um exército de assalariados obedientes e competentes? Como evitar que ela suje os sapatos Manolo Blanik ou Christian Laboutin quando não há uma poça de lama por perto?
Na verdade, nada se pode fazer. Seja num caso ou no outro, não há grandes truques, além da sensatez mútua e da consciência de que vivemos em 2010 e não em 1910. a única coisa a reter talvez seja a mais importante: nunca esquecer que as mulheres não deixam de ser mulheres, apesar de terem saído do ninho dos pais aos 20 anos, do brilhante percurso académico e da subida a pulso no mundo profissional.
Independentemente das carreiras de sucesso, dos telemóveis de topo de Gama e da casa da Foz, elas continuam a ter necessidade de sentir-se protegidas, de aninhar a cabeça na cova do nosso ombro, de sentir o cheiro da nossa pele e de ter a certeza de que despertam em nós o desejo de as empurrarmos contra a parede para um beijo no pescoço. E continuam a gostar de que as mimemos e as façamos rir.
Pelo caminho, pode ser que encontrem alguma mulher que, em nome do poder e da autonomia conquistados a pulso e com mérito, tenha deixado de ter espaço para sentir. Também as há, tão empenhadas em cravar a bandeira da indiferença de género que se esquecem de admirar as coisas em que é bom ser diferente. São as que dizem à boca cheia que não precisam de ninguém. Nem nos lençois. Nesses casos, se gostarem delas, tentem conquistá-las. Se chegarem à conclusão que não vale a pena, é deixá-las ficar. Com a sua independência ao nível do nariz empinado, entre os diplomas, os blackberrys, os BMW topo de gama e as casas vazias.
Para todas as outras, recomenda-se o bom senso, os dois dedos de testas que se espera nos homens inteligentes e os sábios conselhos dos amigos (de preferência das amigas)."

Texto da autoria do jornalista Paulo Farinha, publicado em 29/08/2010, na revista Noticias Magazine, sob o título “isto não é o que parece”.